Crítica – Dunkirk (2017)


Um filme de guerra pseudo-intelectual


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Christopher Nolan (A Origem, Batman – O Cavaleiro das Trevas), diretor de Dunkirk, é um dos cineastas mais pretenciosos de Hollywood atualmente. Após ter feito sucessos de crítica e de público, ele decidiu (extraoficialmente) tentar trilhar o caminho do gênio Stanley Kubrick (O Iluminado, 2001 – Uma Odisseia no Espaço). Isso fica claro ao perceber que Nolan está se aventurando por diversos gêneros sempre com muito preciosismo.

Dunkirk conta a história da extração de pouco mais de 300 mil soldados ingleses e franceses da praia de Dunquerque durante a Segunda Guerra Mundial. Historicamente, a ação foi articulada durante os primeiros dias de Winston Churchill como Primeiro-Ministro do Reino Unido enquanto forças alemãs encurralavam e aniquilavam os exércitos dos aliados por toda Europa Ocidental.

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Fila indiana para o mar

Já no início, somos introduzidos a um grupo de ingleses fugindo de um ataque alemão. Uma cartela A trilha de Hans Zimmer (Gladiador, Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra) constrói uma tensão que perdura por todo o filme, tornando-se até cansativa demais, com o uso de elementos que se assemelham ao som do relógio para mostrar que o tempo dos soldados está acabando. Assim que o único sobrevivente inglês passa pela barricada francesa, ele encontra uma praia, um ambiente sanitário e ordeiro, muito diferente das imagens de guerra. Se não fosse por um ou outro ataque aéreo à praia ou marítimo às embarcações ao longo da obra, dificilmente pareceria um filme de guerra.

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A cidade de Dunquerque está intacta

Aliás, o pouco que é mostrado da cidade de Dunquerque também não aparenta ser um ambiente de guerra, não há destruição alguma. O longa todo segue essa mesma ideia: visualmente, belíssimo, mas distante e indiferente. Nolan preza pelo domínio e aperfeiçoamento da técnica em detrimento da narrativa. Ele se esquece que o cinema, principalmente quando feito para o grande público, é a arte de contar histórias. E, nesse sentido, o diretor tenta simular, sem muito sucesso, um tom quase documental ao não definir protagonistas, não criar arcos de personagens e, muito menos, não fazer o espectador sentir empatia e se importar pelas vidas em jogo. O roteiro ainda menospreza a capacidade intelectual da audiência, algo recorrente na filmografia do diretor. Aqui, grandes atores como Kenneth Branagh (Operação Valquíria, Harry Potter e a Câmara Secreta) e Mark Rylance (Ponte dos Espiões, A Outra) são desperdiçados em papéis cujas únicas funções são explicar os eventos (óbvios!) para o público.

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Com direito a mapa explicativo!

Além disso, a escolha por uma montagem não-linear, desumaniza ainda mais a obra, tornando-a desnecessariamente hermética. Há, no total, três histórias se desenrolando em momentos diferentes: na praia a uma semana do resgate, no barco a um dia e no avião a uma hora. Esse artifício da edição serve para aumentar o tom de urgência, mas faz com que o espectador seja obrigado a assistir ao mesmo evento mais de uma vez. Isso também altera a noção de tempo fazendo com que horas pareçam dias e vice-versa. Tudo muito “confuso”!

A fotografia, com o auxílio de todo o poder das câmeras IMAX, juntamente os efeitos práticos e especiais são os aspectos que se sobressaem na obra. A preferência pelo uso de planos abertos e cores vivas mostra a grandiosidade almejada pela produção. O realismo buscado através do posicionamento de câmera em ângulos não convencionais, principalmente nas cenas aéreas, é assustador. Porém o tiro sai pela culatra quando, na praia, não parece ter nem 50 mil soldados. Ou ainda quando nenhum navio parece ter sido bem-sucedido em sair de Dunquerque sem ser alvejado pelos alemães.

Dunkirk é um típico exemplo de filme com um visual de encher os olhos, uma técnica de dar inveja, mas insensível e desinteressante. Ao optar por escolhas narrativas fáceis para fins dramáticos e desprezar o lado humano da obra, o resultado é um longa estéril e esquecível.

Nota:

Nota 3.0

Ruim


Título Original: Dunkirk
Data de Lançamento: 21 de julho de 2017
Estreia no Brasil: 27 de julho de 2017
Direção: Christopher Nolan
Duração: 106 minutos
Elenco: Tom Hardy, Mark Rylance, Cillian Murphy, Kenneth Branagh, Fionn Whitehead
Gêneros: Guerra, Suspense
País: EUA, Reino Unido, França, Holanda


 

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