Crítica – Três Anúncios Para um Crime (2017)


Sobre as consequências do extremismo e da intolerância


three-billboards-outside-ebbing-missouri-00_3B_00950_rgb

 

Em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, no estado de Missouri, uma mãe em luto pelo estupro e assassinato da filha e cansada de esperar pela investigação policial decide juntar suas economias e alugar por um ano três outdoors em uma estrada pouco movimentada para alfinetar o xerife. Tal atitude dá início a uma série de eventos impossíveis de prever. E assim segue a história de Três Anúncios Para um Crime.

Dirigido por Martin McDonagh (Na Mira do Chefe, Sete Psicopatas e um Shih Tzu), o filme é um excelente estudo de personagem. Ele não é sobre a ação, mas sobre como as pessoas lidam com certos acontecimentos na vida e como elas evoluem e amadurecem com o passar do tempo. Obras assim, geralmente, se apoiam em um elenco de peso para conseguir sustentar diálogos e planos mais contemplativos das emoções humanas. Ou seja, são filmes que exigem bastante dos atores. E todos eles entregam interpretações dignas das maiores premiações, de fato. Desde a mãe em luto, Mildred, vivida por Frances McDormand (Arizona Nunca Mais, Queime Depois de Ler) ao policial racista interpretado por Sam Rockwell (Lunar, Confissões de uma Mente Perigosa), todos se entregam inteiramente aos papéis e é impossível não sentir empatia por aquelas vidas, nem que só por um momento.

billboards1.0

Mas esse longa não se sustenta exclusivamente nas atuações. O roteiro e a montagem também fazem a diferença. O título já dá o tom “absurdo” e peculiar da história. É uma história real o suficiente para você se importar, cheia de sentimentos e personagens críveis, mas com situações absurdas a ponto de não incomodar e gerar certa comicidade. Mas, ao final, tudo está ali para deixar uma reflexão. O roteiro é bastante politizado. Há críticas sociais às maiores instituições: o casamento, a Igreja e a Lei, na forma da polícia.

O casamento é visto como uma instituição falida porque não há mais amor; a Igreja, comparada às gangues, é um clube no qual todos são cumplices uma vez que ninguém denuncia o que há de errado dentro dela como os casos de pedofilia; a polícia é racista, homofóbica, truculenta, incompetente e complacente com os discursos de ódio. Tudo isso aos olhos da protagonista de McDormand. Ela está descrente da vida e destila todo o seu ódio em todos (ou quase todos) que estão à sua volta. Há uma urgência em suas ações. Tanto que o filme se aproveita disso para levantar um questionamento sobre o momento histórico atual de intolerância e extremismo. Há um discurso de ódio sem destinatário, ou melhor, destinado a todos que estiverem dispostos a ouvir e a resposta do outro lado é tão forte e violenta quanto à inicial. E isso perdura até que surge um inimigo em comum. Mas nesse ponto a obra para e observa tudo em perspectiva. E nos deixa com a discussão de até que ponto vai a natureza violenta do ser humano. Será que não há, dentro de cada um, uma forma de conciliação consigo mesmo e com o próximo? O lado negativo é que não há uma grande recompensa, uma grande cena de ação no terceiro ato, no entanto, na vida nem sempre há. E a discussão por si só faz valer os 115 minutos.

tres-anuncios-filme-0118-1400x800-1

Isso tudo é embrulhado em um texto repleto de humor-negro. São poucos os momentos que se afastam da comédia e as risadas se tornam quase que parte da trilha sonora do filme tamanha a naturalidade com que elas aparecem. Isso porque o roteiro acerta ao intercalar humor com drama e o faz na medida certa. É impressionante a capacidade de toda a equipe do filme a se girar a chave do gênero dentro de uma mesma cena, às vezes, no mesmo plano. Desde a trilha sonora às atuações.

threebillboards_1

Por todos esses detalhes, não é de se estranhar que alguns tracem paralelos com a filmografia dos Irmãos Coen (Fargo, Onde os Fracos Não Têm Vez). Um roteiro beirando o absurdo situado no interior dos Estados Unidos, humor-negro, atuações competentes e fotografia e montagem cheias de estilo são praticamente marca registrada dos criadores de O Grande Lebowski (1998). Frances McDormand é, inclusive, uma parceira recorrente nos filmes da dupla. Martin McDonagh, porém, consegue passar o seu discurso político e está se firmando a cada longa como um diretor muito competente.

Três Anúncios Para um Crime é um filme com um discurso sério envelopado em uma capa de comédia, mais especificamente de humor-negro. O resultado é incrível e gostoso de assistir. Ainda mais pelas incríveis atuações, com destaque para Frances McDormand e Sam Rockwell.

Nota:

Nota 6.0

Muito bom


Título Original: Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
Data de Lançamento: 10 de novembro de 2017
Estreia no Brasil: 15 de fevereiro de 2018
Direção: Martin McDonagh
Duração: 115 minutos
Elenco: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, John Hawkes, Peter Dinklage
Gêneros: Crime, Comédia, Drama
País: EUA, Reino Unido


 

Um comentário

Deixe um comentário