Crítica – Com Amor, Van Gogh (2017)


O amor à arte em todas as suas formas


capa

No começo da projeção já somos avisados que o que se passará em seguida transcendeu a Sétima Arte. O trabalho de 100 artistas que pintaram cenários e personagens para a animação, usando a mesma técnica de Vincent Van Gogh, por si só já a torna especial. Foram seis anos de estudos e criação para que a obra ficasse pronta: uma verdadeira homenagem não só ao pintor holandês, mas também à Terceira Arte.

A obra também parece ser metalinguística. Em certo ponto podemos ver uma comunicação entre as formas de arte e as problemáticas, ainda atuais, de ser um artista independente. A história ficcional encontra nas telas pintadas por Van Gogh uma ligação para recontar a vida do artista. No filme, seguimos a trajetória de Armand Roulin, filho do carteiro Jospeh Roulin, que foi amigo do pintor pós-impressionista. No roteiro dos estreantes Dorota Kobiela e Hugh Welchman, Armand recebe uma missão do seu pai: após a morte de Vincent, ele deve entregar a última carta do artista endereçada ao seu irmão, Theo Van Gogh.

obra vs filme
Obra de Van Gogh vs  “still” do filme

A direção e o roteiro não decepcionam. Através do caminho de entrega de uma carta, Dorota e Hugh criam um drama investigativo. O filme é cheio de flashbacks em que podemos remontar os últimos dias de vida do pintor. Nesse momento se confundem os aspectos documentais e ficcionais. A forma como a projeção foi construída se mostra essencial para prender a atenção do espectador, pois, assim como o personagem principal, quanto mais se descobre da vida de Vincent, mais se quer saber. Com uma animação tão carregada de um estilo incomum (esse foi o primeiro filme produzido completamente com pinturas), é o interesse no desenrolar da história que nos faz rapidamente se acostumar com uma estética tão pouco usual. Dessa forma a obra não se torna cansativa, apesar de apresentar alguma obviedade no desenrolar da narrativa. Os diálogos também são emocionantes ao tratarem de temas delicados como a depressão, a coragem e o amor pela arte.

Vincent (Robert Gulaczyk) painting in the rain
Os flashbacks são em preto e branco

Como dito, a comunicação entre as duas formas de arte é intensa no filme. Sem aviso nos deparamos com imagens que são mundialmente conhecidas e estão no imaginário popular global, se é que ele existe. Em certa cena parece que estamos dentro do Museu Van Gogh, em Amsterdã, observando a famosa tela Quarto em Arles, para em um instante a imagem mudar, ser preenchida e fazer parte da história. A Noite Estrelada está presente no filme, que também traz vida a personagens como os pintados em Velho Triste, Marguerite Gachet au Piano, entre outras.

O trabalho gráfico e de animação, no entanto, por terem tomado a maior parte do tempo de produção da obra, terminam por ofuscar o trabalho sonoro. A mixagem, os efeitos e o design de som falham ao entregar um resultado coeso. Em alguns momentos podemos emergir numa atmosfera impressionista de boemia, com o som do vinho sendo derramado em uma taça e conversas abafadas em um café local. Em outras cenas, no entanto, o completo vazio sonoro faz com que o silêncio soe pouco realista.

O elenco, que foi filmado para ajudar na animação, entrega um trabalho competente. As vozes de Douglas Booth (Noé, O Destino de Júpiter), Eleanor Tomlinson (Poldark, O Ilusionista), Jerome Flynn (Game of Thrones) e Saoirse Ronan (Lady Bird: A Hora de Voar, O Grande Hotel Budapeste) protagonizam diálogos sensíveis que contribuem para a construção do clima de investigação e para as reflexões as quais o filme se propõe.

Arles Café Terrace at Night (boemia)
A boemia da França do séc. XIX é recriada

Com Amor, Van Gogh é um filme para ser apreciado. O trabalho de toda a equipe de pintores e de animação é inegavelmente o ponto alto da obra. Podemos facilmente observar todo o esforço que foi dispendido para a realização da projeção, assim como também podemos perceber o amor de quem presta uma homenagem à arte. É por causa dessa percepção, atrelada com a história da vida de Vincent Van Gogh, que o filme emociona. O ineditismo da produção dessa obra fará, com certeza, com que ela não seja esquecida na história do cinema.

Nota:

Nota 6.0

Muito bom


 

Título Original: Loving Vincent
Data de Lançamento: outubro de 2017
Estreia no Brasil: 30 de novembro de 2017
Direção: Dorota Kobiela e Hugh Welchman
Duração: 95 minutos
Elenco: Robert Gulaczyk, Douglas Booth, Jerome Flynn, Saoirse Ronan.
Gêneros: Animação, Biografia, Drama
País: EUA, Reino Unido, Polônia


 

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