Crítica – Lady Bird – A Hora de Voar (2017)


“A única coisa legal de 2002 é ele ser um palíndromo”


IWO2TMDGBVB2XBCJYONZWVLRYQ

“Qualquer um que fale sobre hedonismo na Califórnia nunca passou um Natal em Sacramento”. Com essa frase da escritora Joan Didion, começa Lady Bird – A Hora de Voar. Se você não entendeu, ou não conseguiu se identificar com esse início, prepare-se para um filme cheio de momentos clichês, vividos por qualquer um que já esteja na vida adulta, mas que, por causa de escolhas da diretora estreante Greta Gerwig, não geram reflexão, estão ali simplesmente para serem apreciados e esquecidos.

Greta Gerwig veio do cinema independente no qual os filmes são produzidos com o que está disponível no momento. Ela co-escreveu o elogiado Frances Ha (2012) e Mistress America (2015), ambos do diretor Noah Baumbach. Esse traço estético pode ser visto em Lady Bird. Há uma falta de rebuscamento, um olhar nu sobre a história que encaixa bem com a proposta.

lady-bird

A obra é um coming-of-age, gênero popular que retrata a passagem para a vida adulta da personagem, de uma garota, a Lady Bird do título, vivida por Saoirse Ronan (Desejo e Reparação, Um Olhar do Paraíso), que está terminando o colégio em Sacramento. O filme pinta um retrato de forma crua da relação da protagonista com a mãe, interpretada por Laurie Metcalf (JFK – A Pergunta que Não Quer Calar, Toy Story), além de falar sobre sexualidade, amizades e escolhas.

Lady Bird, ou Christine, como é seu nome de batismo, é uma garota que não se encaixa na cidade que mora. Ela sonha em fugir dali, enquanto se encanta, mesmo sem saber, com a vida que leva e o ambiente que a cerca. Talvez por isso ela sabote seus próprios planos inconscientemente. Em casa, sua relação com a mãe é uma montanha-russa e se o roteiro desse um enfoque maior nesse relacionamento, provavelmente teríamos um longa mais consistente. A mãe, por ser uma super protetora, deseja controlar a vida da filha. Para isso, um dos artifícios usados por ela é fazer com que Christine não se enxergue como uma garota capaz. A menina nunca recebe um elogio da mãe. Tal relação é o oposto da que ela tem com o pai, vivido por Tracy Letts (The Post: A Guerra Secreta, Killer Joe – Matador de Aluguel). Na escola, Lady Bird não vai bem nas matérias e não é popular entre os alunos até decidir se enturmar para buscar suas primeiras experiências sexuais. Infelizmente, o roteiro segue o caminho óbvio e traduz isso em momentos como a protagonista se afastando da melhor amiga e mentindo sobre sua condição financeira familiar para parecer descolada.

v-lady-bird

O texto de Gerwig ainda falha ao tentar buscar um tom cômico na maioria das cenas. E a mistura com o drama nem sempre aterrissa sobre os dois pés. O ponto positivo fica para a construção das personagens. Mãe e filha são tão complexas quanto a relação entre elas. A atuação de ambas está à altura das personagens. Saoirse Ronan e principalmente Laurie Metcalf entregam interpretações cheias de nuances e muito verdadeiras.

Porém, o principal problema do filme é não saber exatamente a mensagem que quer passar. Ao tentar cobrir vários segmentos da vida da garota, a montagem ficou picotada, com cenas jogadas sem uma conclusão nem mesmo uma amarração entre elas. A obra inteira parece um grande trailer e passamos todo o tempo esperando o filme realmente começar. Não que não haja conteúdo, mas tirando a nostalgia e a identificação com uma ou outra dessas inúmeras cenas soltas, não há nada a ser acrescentado que não já tenha sido apresentado em outros longas do gênero.

screen_LadyBird_coA24_4403

Esse coming-of-age é, assim, repleto de altos e baixos. Boas construções de personagens e atuações, mas com um roteiro já bastante conhecido, uma montagem sem coesão e uma fotografia que não se destaca. Dessa forma a relevância do filme se resume, infelizmente, à necessária representatividade feminina na indústria cinematográfica.

Nota:

Nota 4.0

Regular


Título Original: Lady Bird
Data de Lançamento: 3 de novembro de 2017
Estreia no Brasil: 15 de fevereiro de 2018
Direção: Greta Gerwig
Duração: 93 minutos
Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Timothée Chalamet, Lucas Hedges, Beanie Feldstein, Tracy Letts
Gêneros: Comédia, Coming-of-age
País: EUA


 

Um comentário

Deixe um comentário