Crítica – Star Wars – Os Últimos Jedi (2017)


Em que ponto termina a influência do legado de uma saga e começa a apreciação da nova obra pelo que ela é?


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ESSA CRÍTICA NÃO CONTÉM SPOILERS!!!

Salas de cinema lotadas em uma madrugada de quinta-feira só podem indicar a estreia de um filme que carrega consigo uma legião de fãs. Franquias gigantes como Harry Potter e O Senhor dos Anéis conseguiram tal feito, mas nenhuma dela é tão grande e tão antiga quanto Star Wars. A Guerra nas Estrelas já atrai várias gerações e os planos da Disney, atual detentora dos direitos da saga após a compra da Lucasfilm, são de continuar atraindo novos fãs com um lançamento por ano.

Em 2015, a franquia retornou com O Despertar da Força, dirigido por J. J. Abrams (Star Trek, Super 8). O filme arrecadou mundialmente US$2,06 bilhões e provou que ainda há histórias de uma galáxia muito, muito distante para serem contadas. Por exemplo, o roubo dos planos da Estrela da Morte só mencionados em Uma Nova Esperança (1977) e contado em detalhe em Rouge One – Uma História Star Wars (2016).

O episódio VII, O Despertar da Força, apesar de muito bem recebido pela crítica (recebendo 93% no Rotten Tomatoes e 81 no Metacritic), tem como principal defeito, apontado por alguns, as similaridades com o capítulo IV, Uma Nova Esperança. Não tenha dúvidas, Os Últimos Jedi não será acusado disso.

Esse é, definitivamente, o filme mais inovador de toda a franquia. Ao quebrar paradigmas, ele expande o universo. Ao subverter expectativas, emociona. Por sinal, se uma obra deve ser avaliada pelo grau de envolvimento com o espectador, Os Últimos Jedi, com maestria, prende o público à cadeira, faz chorar e sorrir. Ele entende essa nova geração. Sabe que os tempos são outros e que as pessoas são únicas. Métodos e fórmulas ficaram no passado e é isso que ele entrega.

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O novo e o clássico caminham juntos

 

Rian Johnson (Looper) dirige o filme com a segurança de um fã da série. Fica claro que ele é conhecedor de toda a mitologia e transita entre os aspectos clássicos com naturalidade. Para quem maratonar, esse capítulo é uma sequência lógica para os eventos passados. Ele dá importância para o alto escalão, ao mesmo tempo que joga luz nos mais pobres e miseráveis da galáxia que nunca, ao longo de 8 filmes, foram representados.

Dito isto, deve-se observar que há inconsistências no roteiro. Assim como a destruição da Estrela da Morte no quarto filme não causou a queda do império, aqui acontece a mesma coisa. Não fica claro, ainda, somente pelos filmes, de onde veio o poder da Primeira Ordem e como, ou por quê, a Resistência passa por dificuldades após a explosão da Base Starkiller. Outra questão que deve ser mencionada é a decisão na construção do vilão. Entendível, mas inesperada.

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De onde vem a força da Primeira Ordem?

O foco do filme é, definitivamente, nos personagens e suas relações com os outros, com seus passados e com o ambiente que os cerca. O drama psicológico aflige a todos. Esse é o ponto forte da obra. Reconectar-se com o passado, sem a intenção de puro fan-service, mas criando paralelos e desenvolvendo personagens no processo. Há, durante toda a projeção, a busca pelo famoso equilíbrio.

É interessante notar também uma retomada, mesmo que sutil, aos temas políticos. Dessa vez, porém, abordando um viés ainda não explorado. Aqui, há uma discussão, bastante atual inclusive, sobre o mercado da guerra e quem são as pessoas que lucram com isso tudo.

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Rose (Kelly Marie Tran) e Finn (John Boyega) juntos em uma missão

Ainda na política, Os Últimos Jedi é um filme feminista que não sente a necessidade de levantar bandeira para essa questão. Há mulheres fortes em todos os espaços da hierarquia de poder e nenhum dos dois gêneros se sobrepõe. O mesmo acontece em relação a raças e espécies, como sempre foi. Todos são tratados com respeito e sem alardes. Isso só em uma galáxia muito distante mesmo.

Recorrendo à montagem e à criação de um espaço fílmico muito discutido entre teóricos de cinema e diretores como Pudovkin, tenta-se unir pessoas em conflito, a anos-luz de distância em um mesmo ambiente sem nunca mostrá-las juntas, mas em perfeita harmonia e continuidade devido à edição.

A montagem também traz dinamismo. Dividindo a história em vários núcleos de ação, o filme não se perde em momento algum e sabe quando cortar para deixar o espectador sempre na ponta da cadeira.

Visualmente, esse tem as cenas mais bonitas e melhores trabalhadas. Todas as batalhas são incrivelmente bem filmadas. A fotografia, para dar coerência, continua parecida com a do episódio VII, mas bem diferente das duas trilogias anteriores. Há mais profundidade e texturas. Por outro lado, o design de produção consegue manter os elementos clássicos e criar novos e empolgantes personagens e ambientes. O figurino dá um show a parte, principalmente nas peças de Leia.

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Cenas e visuais de tirar o fólego

As atuações estão incríveis. As melhores de toda a franquia. Destaque para os novos Benicio Del Toro, que com seus trejeitos e nuances revela toda sua história sem precisar de grandes introduções, Laura Dern, que faz você odiá-la e amá-la, e Kelly Marie Tran, que exalta carisma com uma das personagens que compõe o núcleo das “pessoas comuns”. Adam Driver tem em mãos o ser mais complexo de toda a franquia e sua atuação é nada menos que brilhante. E Carrie Fischer e Mark Hamill entregam suas melhores performances. Todos os outros também estão seguros e nenhum estraga a diversão. Em certos momentos, todos eles vão entregar diálogos bregas, mas isso faz parte do cânone de Star Wars.

Porém, nem tudo é perfeito e, ao tentar fazer o capítulo mais engraçado, perde-se a mão e o filme termina entregando piadas em momentos inoportunos. Em certos momentos, por O Despertar da Força ter deixado tantas perguntas sem respostas, o ritmo diminui para tratar de tais questões e, por vezes, pode parecer repetitivo ao se manter por tanto tempo num mesmo ponto. Mas nada que atrapalhe a avaliação geral da obra.

A esperança é o que move a história, e isso é Star Wars. Uma nova, uma velha, uma fagulha de esperança, não importa. É sempre um conto sobre pessoas oprimidas que levam suas vidas e lutam contra um sistema opressor na esperança de dias melhores. Elas não desistem nem mesmo quando todas as chances parecem esgotadas.

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Os irmãos Luke (Mark Hamill) e Leia (Carrie Fisher)

Em resumo, esse filme reúne todos os elementos clássicos da saga e apresenta novos. Vale a pena ser visto e revisto para buscar novos paralelos e significados. Muita coisa é contada em 152 minutos e depois de um desvio tão grande do eixo da série, fica o questionamento do que esperar para o Episódio IX.

Carrie Fisher, may the Force be with you, always.

Nota:

Nota 7.0

Excelente


Data de Lançamento: 15 de dezembro de 2017
Estreia no Brasil: 14 de dezembro de 2017
Direção: Rian Johnson
Duração: 152 Minutos
Elenco:  Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac
Gêneros: Aventura, Ficção Científica, Space Opera
Nacionalidade: EUA


 

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