Em que ponto termina a influência do legado de uma saga e começa a apreciação da nova obra pelo que ela é?
ESSA CRÍTICA NÃO CONTÉM SPOILERS!!!
Salas de cinema lotadas em uma madrugada de quinta-feira só podem indicar a estreia de um filme que carrega consigo uma legião de fãs. Franquias gigantes como Harry Potter e O Senhor dos Anéis conseguiram tal feito, mas nenhuma dela é tão grande e tão antiga quanto Star Wars. A Guerra nas Estrelas já atrai várias gerações e os planos da Disney, atual detentora dos direitos da saga após a compra da Lucasfilm, são de continuar atraindo novos fãs com um lançamento por ano.
Em 2015, a franquia retornou com O Despertar da Força, dirigido por J. J. Abrams (Star Trek, Super 8). O filme arrecadou mundialmente US$2,06 bilhões e provou que ainda há histórias de uma galáxia muito, muito distante para serem contadas. Por exemplo, o roubo dos planos da Estrela da Morte só mencionados em Uma Nova Esperança (1977) e contado em detalhe em Rouge One – Uma História Star Wars (2016).
O episódio VII, O Despertar da Força, apesar de muito bem recebido pela crítica (recebendo 93% no Rotten Tomatoes e 81 no Metacritic), tem como principal defeito, apontado por alguns, as similaridades com o capítulo IV, Uma Nova Esperança. Não tenha dúvidas, Os Últimos Jedi não será acusado disso.
Esse é, definitivamente, o filme mais inovador de toda a franquia. Ao quebrar paradigmas, ele expande o universo. Ao subverter expectativas, emociona. Por sinal, se uma obra deve ser avaliada pelo grau de envolvimento com o espectador, Os Últimos Jedi, com maestria, prende o público à cadeira, faz chorar e sorrir. Ele entende essa nova geração. Sabe que os tempos são outros e que as pessoas são únicas. Métodos e fórmulas ficaram no passado e é isso que ele entrega.
Rian Johnson (Looper) dirige o filme com a segurança de um fã da série. Fica claro que ele é conhecedor de toda a mitologia e transita entre os aspectos clássicos com naturalidade. Para quem maratonar, esse capítulo é uma sequência lógica para os eventos passados. Ele dá importância para o alto escalão, ao mesmo tempo que joga luz nos mais pobres e miseráveis da galáxia que nunca, ao longo de 8 filmes, foram representados.
Dito isto, deve-se observar que há inconsistências no roteiro. Assim como a destruição da Estrela da Morte no quarto filme não causou a queda do império, aqui acontece a mesma coisa. Não fica claro, ainda, somente pelos filmes, de onde veio o poder da Primeira Ordem e como, ou por quê, a Resistência passa por dificuldades após a explosão da Base Starkiller. Outra questão que deve ser mencionada é a decisão na construção do vilão. Entendível, mas inesperada.
O foco do filme é, definitivamente, nos personagens e suas relações com os outros, com seus passados e com o ambiente que os cerca. O drama psicológico aflige a todos. Esse é o ponto forte da obra. Reconectar-se com o passado, sem a intenção de puro fan-service, mas criando paralelos e desenvolvendo personagens no processo. Há, durante toda a projeção, a busca pelo famoso equilíbrio.
É interessante notar também uma retomada, mesmo que sutil, aos temas políticos. Dessa vez, porém, abordando um viés ainda não explorado. Aqui, há uma discussão, bastante atual inclusive, sobre o mercado da guerra e quem são as pessoas que lucram com isso tudo.
Ainda na política, Os Últimos Jedi é um filme feminista que não sente a necessidade de levantar bandeira para essa questão. Há mulheres fortes em todos os espaços da hierarquia de poder e nenhum dos dois gêneros se sobrepõe. O mesmo acontece em relação a raças e espécies, como sempre foi. Todos são tratados com respeito e sem alardes. Isso só em uma galáxia muito distante mesmo.
Recorrendo à montagem e à criação de um espaço fílmico muito discutido entre teóricos de cinema e diretores como Pudovkin, tenta-se unir pessoas em conflito, a anos-luz de distância em um mesmo ambiente sem nunca mostrá-las juntas, mas em perfeita harmonia e continuidade devido à edição.
A montagem também traz dinamismo. Dividindo a história em vários núcleos de ação, o filme não se perde em momento algum e sabe quando cortar para deixar o espectador sempre na ponta da cadeira.
Visualmente, esse tem as cenas mais bonitas e melhores trabalhadas. Todas as batalhas são incrivelmente bem filmadas. A fotografia, para dar coerência, continua parecida com a do episódio VII, mas bem diferente das duas trilogias anteriores. Há mais profundidade e texturas. Por outro lado, o design de produção consegue manter os elementos clássicos e criar novos e empolgantes personagens e ambientes. O figurino dá um show a parte, principalmente nas peças de Leia.
As atuações estão incríveis. As melhores de toda a franquia. Destaque para os novos Benicio Del Toro, que com seus trejeitos e nuances revela toda sua história sem precisar de grandes introduções, Laura Dern, que faz você odiá-la e amá-la, e Kelly Marie Tran, que exalta carisma com uma das personagens que compõe o núcleo das “pessoas comuns”. Adam Driver tem em mãos o ser mais complexo de toda a franquia e sua atuação é nada menos que brilhante. E Carrie Fischer e Mark Hamill entregam suas melhores performances. Todos os outros também estão seguros e nenhum estraga a diversão. Em certos momentos, todos eles vão entregar diálogos bregas, mas isso faz parte do cânone de Star Wars.
Porém, nem tudo é perfeito e, ao tentar fazer o capítulo mais engraçado, perde-se a mão e o filme termina entregando piadas em momentos inoportunos. Em certos momentos, por O Despertar da Força ter deixado tantas perguntas sem respostas, o ritmo diminui para tratar de tais questões e, por vezes, pode parecer repetitivo ao se manter por tanto tempo num mesmo ponto. Mas nada que atrapalhe a avaliação geral da obra.
A esperança é o que move a história, e isso é Star Wars. Uma nova, uma velha, uma fagulha de esperança, não importa. É sempre um conto sobre pessoas oprimidas que levam suas vidas e lutam contra um sistema opressor na esperança de dias melhores. Elas não desistem nem mesmo quando todas as chances parecem esgotadas.
Em resumo, esse filme reúne todos os elementos clássicos da saga e apresenta novos. Vale a pena ser visto e revisto para buscar novos paralelos e significados. Muita coisa é contada em 152 minutos e depois de um desvio tão grande do eixo da série, fica o questionamento do que esperar para o Episódio IX.
Carrie Fisher, may the Force be with you, always.
Nota:
Excelente
Data de Lançamento: 15 de dezembro de 2017
Estreia no Brasil: 14 de dezembro de 2017
Direção: Rian Johnson
Duração: 152 Minutos
Elenco: Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac
Gêneros: Aventura, Ficção Científica, Space Opera
Nacionalidade: EUA
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