Crítica – Extraordinário (2017)


No mundo ideal, todos teriam um final feliz?


 

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O cinema está cheio de filmes sobre pessoas que sofrem com deficiências como O Homem Elefante (1980), Meu Nome é Rádio (2003), O Escafandro e a Borboleta (2007) e até mesmo o brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014). As mais diversas doenças que afligem corpo e mente humana já foram retratadas através de incontáveis prismas. Hollywood também ama histórias edificantes de superação.

O diretor Stephen Chbosky que divide o roteiro com Jack Thorne e Steve Conrad uniu as duas questões nessa adaptação do livro Wonder (Extraordinário, em Português) de R.J. Palacio.

Na trama, acompanhamos o garoto August Pullman, “Auggie”, interpretado por Jacob Tremblay (O Quarto de Jack, O Livro de Henry), que nasceu com uma desordem craniofacial congênita e passou por diversas cirurgias para ter um rosto “ordinário” o que nunca foi alcançado. Por isso, ele se fechou para o mundo até que sua mãe, Julia Roberts (Uma Linda Mulher, Um Lugar Chamado Notting Hill) decidiu que era hora de matriculá-lo em uma escola e deixar de ser sua professora particular. A partir daí o garoto começa a sofrer bullying e precisará enfrentar todas as dificuldades do ensino fundamental.

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A vida na escola não é fácil para Auggie

O roteiro, nesse ponto, não poderia ser mais clichê. Apesar de o núcleo familiar ser, em certa medida, interessante, os personagens da escola são estereotipados. Logo de cara somos apresentados ao professor amigo, ao projeto de cheerleader, ao valentão e ao menino que irá contrariar o corpo de alunos e se tornar amigo de Auggie. A família do protagonista é o padrão de Hollywood: brancos e ricos. A mãe Isabel pode se dar ao luxo de não trabalhar para se dedicar à educação do filho e em momento algum vemos um sentimento real sobre não ter concluído sua tese de mestrado. O pai Nate, Owen Wilson (Meia-noite em Paris, Uma Noite no Museu), que também é o alívio cômico, está sempre feliz independente da situação. A irmã Via, Izabela Vidovic (Linha de Frente), é a única com dramas identificáveis como o de ser sempre desprezada pelos pais em virtude da doença do irmão, porém o roteiro extrapola ao estender a história de Via para além do núcleo familiar, concedendo-a quase um protagonismo. Além disso, inúmeros artifícios baratos são usados para buscar o choro da plateia. Um exemplo seria uma cena que envolve o cachorro da família.

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Os dramas de Via em primeiro plano

As atuações, excetuando-se a de Izabela Vidovic, são competentes e transmitem emoção. O destaque, claro, fica com Jacob Tremblay que, mesmo com o empecilho da prótese, faz uso do olhar e da expressão corporal para compor uma atuação digna de um excelente artista. Vale mencionar Danielle Rose Russell, intérprete de Miranda, amiga de Via, que, apesar de ter um papel pequeno, entrega uma atuação forte. A brasileira Sônia Braga (Aquarius, Gabriela) faz uma ponta no filme como a avó do protagonista.

A grande defeito do filme, porém, é não se arriscar mais. Visando atingir o maior número de pessoas possível, a produção não sai da zona de conforto. Ela brinca com a ideia do imaginário de Auggie, mas utiliza esse conceito timidamente e em momentos pontuais. O protagonista, para fugir da sua triste realidade, finge ser um astronauta e interage com figuras de Star Wars, série a qual ele é fã. Outras obras, como O Labirinto do Fauno (2006) ou Alice no País das Maravilhas (1865), se constroem inteiramente na imaginação das protagonistas mirins. Teria sido interessante ver mais do mundo de Auggie.

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A arte como forma de inclusão e identificação

Essa ideia de que a obra é rasa por não desenvolver muito bem o que propõe também passa pela montagem. Ao dividir o filme em capítulos através do uso de cartelas seguidas de uma narração em off do personagem cujo seguimento transmitirá o seu ponto-de-vista, espera-se consistência na edição. Ao contrário, na primeira cena acompanhamos o personagem em questão para, no momento seguinte, termos a atenção voltada para Auggie. Assim, o protagonista funciona praticamente como um fio condutor, uma história de fundo para falar sobre preconceito, aceitação e outros temas enquanto os dramas reais e tangíveis de Auggie são relegados a segundo plano. A ele cabe o papel de ser adorável durante a maior parte do filme, enquanto Via, Miranda e Jack Will, interpretado por Noah Jupe (Suburbicon), têm suas histórias desenvolvidas para além do superficial.

A direção de arte consegue fazer um bom trabalho ao criar ambientes verossímeis e encher os espaços com referências identificáveis a obras do gosto do protagonista.

O filme sofre do mal de ter diversos finais. Quando tudo caminhava bem e parecia chegar ao fim, surge outra cena, desnecessária, para mostrar que as coisas podem ficar ainda melhores. É o típico filme que te força ao choro, mas que te faz sair da sessão “leve”, sem pensar no que assistiu uma vez que todos os personagens, sem exceção, ganham um final feliz.

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Fiquem tranquilos, tudo acaba bem

Extraordinário é um filme com potencial para tanto, mas não passa de comum. Quantos Auggies não dariam tudo para ter a oportunidade de fazer apenas uma das cirurgias a qual o protagonista se submeteu? Quantas famílias não foram destruídas por não serem capazes de lidar com um filho com deficiência? Mas essas perguntas não passam, nem de longe, pelas cabeças da equipe de produção. Não sendo inteiramente um drama, nem uma comédia, nem uma fantasia, a obra é simplesmente ordinária.

 Nota:

Nota 4.0

Regular


Data de Lançamento: 17 de novembro de 2017
Estreia no Brasil: 23 de novembro de 2017
Direção: Stephen Chbosky
Duração: 113 Minutos
Elenco:  Julia Roberts, Owen Wilson, Jacob Tremblay
Gêneros: Drama
Nacionalidade: EUA


 

2 comentários

  1. Boa crítica, o elenco é muito bom. Esse é um grande filme, li tambem o livro é maravilhoso, eu recomendo outro filme baseado em um livro, 7 Minutos Depois da Meia Noite é umo dos melhores filmes para chorar, já queria assistir e agora é um dos meus preferidos. Li o livro em que esta baseada faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje, e sem dúvida teve uma grande equipe de produção. É muito inspiradora, realmente a recomendo.

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