Crítica – Me Chame Pelo Seu Nome (2017)


Quem nunca viveu uma história de amor de verão fugaz e arrebatadora?


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Quem já esteve tão apaixonado por alguém a ponto de se confundir no outro, vai entender o título do filme. “Me chame pelo seu nome e eu lhe chamo pelo meu” pode parecer, à primeira vista, estranho e até um pouco narcisista, mas é um exemplo perfeito do que o filme trata: pessoas e suas peculiaridades.

Dirigido pelo italiano Luca Guadagnino (100 Escovadas antes de Dormir, A Bigger Splash), o filme, que encerra a Trilogia do Desejo (Um Sonho de Amor, A Bigger Splash) do diretor, retrata muito bem o clima europeu. Na história, um coming of age passado no norte da Itália nos anos 80, uma família que é uma amálgama de crenças e nacionalidades recebe um estudante de arqueologia americano, Oliver, vivido por Armie Hammer (A Rede Social, O Agente da U.N.C.L.E.). Para hospedá-lo, Elio, na pele de Timothée Chalamet (Homens, Mulheres e Filhos, Interestelar), deve ceder seu quarto. Oliver é extrovertido e Elio, ávido leitor e músico prodígio, é tímido. De início, o garoto não aceita a presença do outro rapaz, primeiramente, porque ele se faz presente em todos os lugares, tomando todos os cantos e atenções para si e também porque ele representa tudo que o jovem Elio não consegue ser. A princípio, esse sentimento de Elio soa irracional uma vez que já é tradição familiar receber um hóspede novo todo verão. Mas isso fica em segundo plano quando o personagem de Chalamet gradualmente passa a sentir admiração e, por fim, uma paixão impossível pelo americano.

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Mais que hóspede

A obra é irregular tanto na técnica quanto na forma de contar a história. O primeiro ato é arrastado e demora para engrenar deixando o filme mais longo e cansativo do que deveria ser. As seis semanas do verão de Oliver na casa dos Perlman parecem não ter fim, algumas cenas são “duplicadas” no sentido que exercem exatamente a mesma função. O filme é ora contemplativo, subjetivo, ora melodramático, expositivo. Porém, o longa realmente triunfa nos momentos de silêncio, nos diálogos não ditos, nas horas que entramos na cabeça dos personagens e sentimos o que eles sentem. Em uma época na qual ser gay era considerado doença e, principalmente, em um dos países mais conservadores do ocidente, muito deveria ficar subentendido e o diretor assimila isso em boa parte do filme. Mas, em alguns momentos, como quando a mãe lê um conto alemão ou em certos diálogos, tudo fica muito expositivo e perde a sutileza, a mágica que tão arduamente foi construída.

Infelizmente, talvez por medo de chocar demais, o filme se sabota fazer tratamento diferente entre as relações heteronormativas e homossexuais. Ele escolhe ser mais expositivo com aquelas e gira a câmera para não mostrar estas.

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Jovens aproveitando o verão

O público, invariavelmente, sente empatia por Oliver e Elio e seu relacionamento, em parte porque o amor não conhece gênero ou orientação sexual, em parte pela brilhante atuação dos protagonistas. Hammer interpreta o americano por vezes arrogante que parece ter sua vida resolvida, mas esconde inseguranças para além da sua compreensão. Já Chalamet é a vulnerabilidade em pessoa. Por mais que tente parecer forte e indiferente, não consegue esconder seus sentimentos. E a química entre os dois parece real. O resto do elenco principal também está muito bem e expõem toda a contradição humana. Contradição essa que pode soar como falha de roteiro, mas o que seria o ser humano se não um ser contraditório? Alguém que muda de opinião, que nega com expressão não-verbal o que acabou de falar? O filme está repleto dessas nuances e de personagens tridimensionais e fornece diversos momentos para a audiência parar, refletir e encontrar significados no que é mostrado.

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Uma tarde a dois

Tecnicamente, a obra é cheia de soberba. A todo instante, Guadagnino quer mostrar seu conhecimento sobre as artes, desde a música clássica até sua interpretação sobre o cinema passando pela literatura e a escultura, e a História. Os personagens, poliglotas, não sentem dificuldade em transitar entre as Línguas e parecem se orgulhar disso ao usarem essa habilidade sempre, sem motivo aparente. Além disso, cortes abruptos nas músicas, canções indie comuns nesse tipo de filme, movimentações de câmera repetitivas e efeitos com ar amador acabam com a mágica do cinema para o espectador mais atento.

Me Chame Pelo Seu Nome, apesar de um pouco longo demais, consegue contar uma história comovente, principalmente através do não-dito, e traz excelentes atuações, mas se perde na soberba do diretor e na falta de revisão técnica do filme.

Nota:

Nota 5.0 (Bom)

Bom


Data de Lançamento: 24 de novembro de 2017
Estreia no Brasil: 18 de janeiro de 2018
Direção: Luca Guadagnino
Duração: 132 minutos
Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel
Gêneros: Drama, coming of age
País: EUA, Itália, Brasil, França


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